quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

câncer - Poema sobre a morte de sua mãe


'câncer' - Poema sobre a morte da mãe de Charles Bukowski:

'encontrei seu quarto no alto de uma
escada.
ela estava sozinha.
"olá Henry", ela disse, e depois,
"você sabe, eu odeio esse quarto, ele não
tem janelas."

eu estava com uma ressaca daquelas.
o cheiro era insuportável,
sentia-me prestes a
vomitar.

"eles me operaram dois dias atrás",
ela disse. "me senti melhor no dia
seguinte, mas agora está tudo igual a antes, talvez até
pior."

"sinto muito, mãe."

"sabe, você estava certo, seu pai
é um homem terrível."

pobre mulher. um marido brutal e
um filho alcoólatra.

"me desculpe, mãe, eu volto
logo..."

o cheiro havia me impregnado,
meu estômago pulava.
saí do quarto
e desci metade do lance de escadas,
me sentei ali
agarrado ao corrimão,
respirando o ar
puro.

a pobre mulher.

segui respirando e
mantendo o controle para não
vomitar.

me levantei e voltei a subir os
degraus em direção ao quarto.

"ele tinha me mandado para um
hospício, você
sabia?"

"sim. eu informei a eles
que tinham pegado a pessoa
errada."

"você parece doente, Henry, está tudo bem
contigo?"

"não estou num bom dia, mãe. Volto
para ver você
amanhã."

"tudo bem, Henry..."

fiquei de pé, fechei a porta, em seguida
desci a escada.
ganhei a rua, cheguei a um
roseiral.

soltei tudo sobre o
roseiral.

pobre e desgraçada mulher...

no dia seguinte cheguei com
flores.
subi a escada até a
porta.

havia uma guirlanda na
porta.
tentei abrir a porta mesmo assim.
estava trancada.

desci os degraus
cruzei as roseiras e seu jardim
e cheguei à rua
onde havia estacionado meu
carro.

duas garotinhas
entre 6 e 7 anos
voltavam da escola para casa.

"desculpem-me, senhoritas, mas vocês
gostariam de ganhar umas flores?"

elas pararam e me
encararam.
"tome", estiquei o buquê à mais alta
das garotas. "agora, vocês
dividam, por favor, dê para sua amiguinha
a metade delas."

"obrigada", disse a mais
alta, "elas são
lindas."

"sim, são mesmo", disse a
outra, "muito
obrigada."

elas se afastaram descendo a rua
e eu entrei no meu carro,
dei a partida, e
dirigi de volta para o meu
canto.'

- Charles Bukowski, em 'Textos autobiográficos'
- VelhoBukowski.com

Um comentário:

  1. triste e profundo, gosto dos poemas do Bu pois todos eles têm grande sinceridade.

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